Gustavo Santos Ferreira
Entre as 20 mais poderosas economias do mundo, o Brasil ostenta hoje a quinta maior inflação medida em 12 meses – 6,09%, conforme divulgou o IBGE nesta sexta-feira. O índice nacional fica atrás apenas dos 25,0% da Argentina; dos 10,8% da Índia; dos 8,6% da Indonésia; e dos 6,4% de África do Sul e Rússia.
O Brasil tem somente a 56ª economia mais competitiva do mundo atualmente, após perder oito posições em ranking divulgado neste ano. Para Carlos Rodofolfo Schneider, coordenador do Movimento Brasil Eficiente, a inflação nacional explica em grande parte o atual momento.
“E o que explica essa inflação são os grandes gastos do governo, que investe pouco”, diz ele.
De acordo com o empresário, a atual política econômica expansionista dos últimos anos mantém nas alturas o custo Brasil – termo empregado para os estraves estruturais, burocráticos e econômicos que encarecem o investimento no País.
Com a inibição do investimento em infraestrutura e logística, diz ele, a produtividade também cai. E, caindo a produtividade, consequentemente, um país não tem como competir de igual para igual com as demais economias.
“Entramos num clico ruim que mina a competitividade nocional”, afirma Schneider. “E a inflação está na ponta desse processo.”
Mas a inflação, por si só, não diz nada. Caso um país consiga crescer com altos índices de preços, ela não pesa tanto assim – diz Samy Dana, professor da Fundação Getulio Vargas. Mas, como lembra, a inflação no Brasil hoje é quase três vezes maior do que o ritmo de crescimento da produção nacional de bens e serviços.
Embora, em geral, o panorama econômico do Brasil – de baixo crescimento e inflação constantemente elevada – seja atribuído pelo governo federal à crise internacional, números bem inferiores são registrados onde ela ocorre. Nos Estados Unidos, a alta de preços em 12 meses é de 2,0%; na União Europeia, é de 1,6%.
No entanto, toda a responsabilidade da inflação convertida em baixo investimento não cabe só ao governo. Em apenas dois anos, entre 2010 e 2012, a participação da Formação Bruta de Capital Fixo (bens de capital) e Estoque das empresas caiu de 20,2% para 17,6% no PIB do Brasil. Ao mesmo tempo, o consumo das famílias subiu de 59,3% para 62,3%.
Ou seja, enquanto as empresas investem cada vez menos, as famílias consomem cada vez mais. “O problema não é de consumo elevado, mas de oferta baixa”, diz Dana. “E os problemas de gestão das empresas impede que esse descompasso diminua.”
O custo Brasil, segundo ele, incentivado pelos gastos do governo, inibe, sim, os investimentos. Mas, por outro lado, a falta de eficiência do empresário também pesa para elevar os preços e diminuir a produtividade. “A gente ainda não está preparado para um mundo competitivo”, diz.
(Estadão)