Brasil assina acordo com Argentina para investigar crimes da ditadura

Agência O Globo

Após a revelação da existência de dossiês vistos como uma
das maiores provas da Operação Condor, regime de cooperação entre os governos
ditatoriais do Cone Sul para perseguir opositores, o procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, assinou nesta quarta-feira um acordo de cooperação internacional
com o Ministério Público argentino para criar a Equipe Conjunta de Investigação
- Justiça de Transição. O objetivo é apurar os crimes cometidos pelos regimes
militares dos dois países, sobretudo no que diz respeito à Operação Condor.

É a primeira vez que uma Equipe Conjunta de Investigação é
instituída na América do Sul. O grupo terá sedes no Rio de Janeiro e em Buenos
Aires e será composto por seis membros, três de cada país. O procurador Rodrigo
Janot, durante cerimônia para celebração do pacto entre os país, classificou o
acontecimento como "histórico".

- No âmbito da Justiça de Transição, no combate às graves
violações de direitos humanos ocorridas no regime militar, aproveita-se a
expertise que Brasil e Argentina já adquiriram em investigações desta natureza.
Porém, a experiência nesta equipe conjunta de investigação poderá servir, no
futuro, de modelo para outras iniciativas em qualquer tipo de delito de caráter
transnacional, como tráfico de drogas, armas, pessoas e animais, contrabando,
evasão de divisas, lavagem de dinheiro- afirmou Janot.

Na série de reportagens "Operação Gringo",
publicada durante três dias pelo Globo, foi revelado que militares brasileiros vigiavam
estrangeiros e mesmo autoridades diplomáticas que entravam no país, e dispunham
informações fornecidas pelo governo argentino sobre 'subversivos'. Os dois
dossiês, além da lista nominal dos vigiados, trazem uma série de compilações de
outros relatórios, explicações sobre os grupos brasileiros e estrangeiros
monitorados, gráficos mostrando o avanço e o recuo das esquerdas no Brasil,
além de informação dos cerca de 130 monitorados, entre brasileiros, alemães,
bolivianos, chilenos, americanos, italianos, soviéticos, venezuelanos e,
principalmente, argentinos.

Os agentes vigiaram inclusive autoridades diplomáticas do
Alto Comissariado das Nações Unidas (Acnur), que tiveram as entradas e saídas
do país monitoradas, e os católicos da Cáritas. As duas instituições formaram a
base da rede de solidariedade a cerca de 20 mil exilados das ditaduras latinas
no período. Com a provável ajuda da repressão argentina, o escritório do CIE no
Rio chegou a infiltrar um informante nas fileiras montoneras, grupo de resistência
à ditadura Argentina, no Brasil.

Leave a Reply