Banda argentina vibra com influência em estádios sul-americanos

Não existe torcedor argentino que nunca tenha empurrado seu time com músicas inspiradas na banda Attaque 77. As canções do tradicional grupo de rock, devidamente adaptadas pelas torcidas de futebol, também embalam arquibancadas de países como Uruguai, Colômbia e Equador. Fãs do esporte, os integrantes do conjunto vibram com a influência de seu trabalho nos estádios.

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“Somos muito ligados ao futebol desde pequenos. Nos meus sonhos de infância, eu queria ser jogador de futebol ou cantor de rock. Sem dúvida, há muita conexão entre o esporte e a música. O público compartilha sensações e também tem o elemento da paixão. Na Argentina, o rock gera uma coisa muito parecida com o futebol”, diz Luciano Scaglione, baixista e um dos vocalistas da banda.

Enquanto no Brasil os jogadores podem ser facilmente confundidos com pagodeiros, na Argentina é o rock que faz as arquibancadas pulsarem. Desta forma, os sucessos das bandas do país são rapidamente assimilados pelos torcedores. Se os integrantes do grupo são admiradores do esporte, como é o caso da Attaque 77, a proximidade entre os dois universos fica ainda mais evidente.

As canções “No me arrepiento de este amor”, “Por que te vas” e “Hacelo por mi” são alguns exemplos de músicas compostas ou popularizadas pelo grupo que ganharam versões de arquibancada. Ao final de cada show, para pedir o bis, os fãs cantam “Soy de Attaque”, um dos maiores hits dos estádios latino-americanos. “Yo soy de Attaque, es un sentimiento, no puedo parar”, diz a letra.

Apesar da barreira idiomática, as torcidas de clubes como São Paulo, Vasco e Atlético-MG criaram suas próprias versões. O Morumbi costuma ser enfeitado com uma faixa e a inscrição “O sentimento não pode acabar”. Um dos versos da canção ainda serviu como título para um documentário sobre o Vasco da Gama, filmado por José Henrique Fonseca, diretor do filme Heleno, protagonizado pelo astro Rodrigo Santoro.

Divulgação

A banda argentina Attaque 77, autora de hit em estádios brasileiros, apresentou seu show acústico em São Paulo

Os roqueiros que influenciam as torcidas dos clubes de futebol ao redor do continente sul-americano são admiradores de alguns artistas brasileiros. Os argentinos já gravaram “Perfeição”, do Legião Urbana, e o cover de “Amigo”, de Roberto e Erasmo Carlos, também acabou virando hit nos estádios.

“São músicas que escutávamos em nossas casas quando éramos pequenos. Ficaram em algum lugar da nossa mente como uma forte lembrança e nos pareceu divertido tratar de brincar com essas canções. É muito fácil para nós tocar composições dos Ramones ou do Sex Pistols. Em contrapartida, nessas músicas brasileiras o desafio é maior”, explicou Scaglione.

O grupo ainda é famoso pela música “Sola en la cancha”, a princípio dedicada ao Boca Juniors, mas oferecida ao River Plate desde que Mariano Martinez assumiu os vocais no lugar de Ciro Pertusi. “É um costume na Argentina que as torcidas tomem canções populares e mudem as letras para alentar suas equipes. Acho que tem um pouco a ver com a força do rock e também que sejam canções que todos conhecem”, diz Luciano Scaglione.

Criada em 1987, a Attaque 77 já fez exibições para multidões nos Estádios do River Plate e do Vélez Sarsfield. No show para festejar os 15 anos da banda, os integrantes tocaram vestidos com uniformes da seleção argentina. A identidade do grupo com futebol aumentou ainda mais quando a Nike usou a canção “Dame Fuego” em um comercial protagonizado por Tevez e Cantona, em 2006.

No último mês de março, a Ataque 77 fez um show em São Paulo dentro do projeto “Caros Hermanos”, promovido pelo Sesc com o objetivo de apresentar um panorama do cenário artístico argentino. A chance de tocar diante de espectadores brasileiros, alguns trajados com camisas de clubes de futebol, é comemorada pelo grupo.

“O público brasileiro tem algo muito parecido com o argentino. Tem a ver com a energia e o ambiente positivo que se sente a todo o momento. Acho que é o desejo de qualquer banda argentina ter a oportunidade de tocar no Brasil. Nós disfrutamos a possibilidade que estamos tendo de viajar frequentemente ao país. Ficamos muito agradecidos”, declarou o baixista do conjunto.

Atualmente, a banda argentina com mais de 25 anos de estrada vive a experiência inusitada de promover o álbum acústico “Arrancacorazones”. Habituados a tocar para espectadores ensandecidos, os roqueiros ainda tentam se acostumam a um show mais comportado – com a banda e o público sentados – e novos instrumentos, a exemplo de violinos, violoncelo e piano.

Luciano Scaglione aprova o novo formato, exibido em São Paulo, mas admite sentir uma certa falta das apresentações tradicionais em alguns momentos. “Acho que a força e a mensagem não foram perdidas. Tudo é muito diferente e isso nos faz crescer como músicos. Ainda assim, sempre dá saudades do barulho da distorção e da velocidade das músicas”, explicou.

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