Para o especialista em relações internacionais, a transição não será rápida, nem fácil. “Esses movimentos têm de ser graduais porque, como a Argentina fechou muitas de suas relações comerciais, acabou prejudicando a competitividade de suas empresas. Muitas provavelmente quebrariam com uma abertura de mercado conduzida rapidamente”, disse Matias Franchini. Internamente, as dificuldades do novo governo não serão poucas, uma vez que a economia vive um momento crítico por causa da inflação, da recessão econômica, da instabilidade do preço do dólar e da piora das exportações. Haverá também problemas decorrentes da falta de transparência no governo argentino, que tem apresentado dados incertos sobre a real situação do país. “Isso tirou dos argentinos a possibilidade de uma noção real sobre a dimensão da crise econômica, que não foi plenamente percebida nem assimilada pela população, apesar de o país ter passado por várias crises nas últimas décadas. Essa falta de transparência certamente resultará em dificuldades também para o novo governo definir quais medidas serão adotadas e suscitará discussões sobre a origem dos problemas enfrentados pelo país, se são herança do governo anterior ou incompetência do atual”, destacou Franchini.
Durante a campanha eleitoral Macri relutou em dar definições políticas claras. “Por motivos eleitorais, ele não apresentou de forma clara suas propostas. Dizia apenas que reforçaria os vínculos com quem quisesse colaborar com a Argentina. Suas declarações eram sempre muito difusas, mas a tendência deverá ser a busca de espaços comerciais e políticos com outros países”. O professor disse também que Macri deverá enfrentar problemas similares aos que o governo brasileiro tem em sua relação com o Legislativo. “A falta de apoio no Congresso certamente será um obstáculo político, uma vez que há grande presença peronista no Parlamento argentino. Será uma situação bastante parecida com a brasileira.”Franchini lembrou que, por causa dos calotes, muitos financiamentos e investimentos a serem feitos em prol da Argentina ficaram travados. Em 2001, a dívida foi renegociada com 75% dos credores internacionais. Os demais não aceitaram a proposta argentina e optaram por recorrer à Justiça nos Estados Unidos. “Imagino que Macri renegociará com esses credores, a fim de pagar essas dívidas e buscar novos financiamentos internacionais. Ainda é cedo para dizer se conseguirá recuperar a credibilidade com credores, uma vez que dependerá, também, de negociações internas. O problema é que os peronistas são famosos por sua intransigência em fazer alianças com outros partidos”. O professor destacou que a situação fica ainda mais difícil por ter sido apertada a vitória de Macri.