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Andre Penner/AP
(Bloomberg) -- Dezoito meses depois de a Argentina ter interrompido as negociações com seus credores insatisfeitos, o recém-eleito presidente Mauricio Macri está recomeçando as negociações, alimentando o otimismo de que o país finalmente conseguirá deixar para trás a disputa jurídica que já dura dez anos. Mas não vai ser fácil chegar a um acordo.
Macri, que assumiu a presidência no dia 10 de dezembro, disse na terça-feira (12) que quer que Daniel Pollack, o mediador nomeado pelo tribunal, o ajude a fechar "um acordo razoável" com os detentores de títulos liderados pelo bilionário Paul Singer.
O secretário de Finanças da Argentina, Luis Caputo, se reunirá com Pollack e com representantes dos credores em Nova York nesta quarta-feira para reiniciar as negociações interrompidas em julho de 2014, quando a então presidente Cristina Kirchner se recusou a acatar a decisão do tribunal americano de que a Argentina deveria pagar o valor total aos investidores.
A decisão tomada por ela levou o país ao calote pela segunda vez em 13 anos.
Para chegar a um acordo que abra o caminho para que a Argentina, que está sem dinheiro, recupere o acesso aos mercados internacionais de dívida, Macri terá que superar enormes desafios políticos e financeiros.
Um dos pontos mais delicados será como a Argentina, cujas reservas caíram em novembro para o nível mais baixo em nove anos, vai pagar aos credores restantes de seu calote recorde de 2001, disse Henry Weisburg, advogado da Shearman Sterling LLP.
Alguns dos dissidentes, que em 2005 e em 2010 recusaram as reestruturações que impunham prejuízos de 70%, disseram que aceitariam dívida nova em vez de dinheiro como parte de um acordo.
"Há uma longa lista de questões: o montante do principal, o tratamento dos juros, os instrumentos ou títulos particulares que são cobertos", disse Weisburg.
Embora Singer tenha dito publicamente que aceitaria o pagamento em títulos e um desconto, pagar uma parcela em dinheiro poderia ajudar o governo a impor reduções maiores aos dissidentes, disse ele.
Resolver problemas do passado
O Shearman Sterling LLP é um dos escritórios de advocacia que a Argentina está analisando para conduzir as negociações com os detentores dos títulos em calote, disse Yael Bialostozky, porta-voz do Ministério das Finanças, no dia 29 de dezembro.
A Argentina iniciará o processo seletivo de outro escritório para conduzir as negociações nos próximos dias, de acordo com um comunicado do ministério.
Bialostozky não respondeu imediatamente a telefonemas e emails em busca de comentários sobre as negociações.
"É muito importante resolver os problemas do passado", disse Macri em uma entrevista coletiva em Buenos Aires na terça-feira. "Queremos deixar de ser um país visto como não cumpridor e queremos resolver todas as questões pendentes".
Os US$ 6,4 bilhões em títulos da Argentina com vencimento em 2024 ganharam 4,5% desde que Macri foi eleito, no dia 22 de novembro, em comparação com a perda média de 2,4% em mercados emergentes acompanhados pelo JPMorgan.
Outro possível entrave nas negociações será o modo que a Argentina vai lidar com os outros credores, disse Marco Schnabl, sócio da Skadden Arps Slate Meagher Flom LLP.
Em outubro, o juiz distrital dos EUA Thomas Griesa ampliou sua decisão para que a Argentina pague a Singer e outros fundos hedge US$ 1,88 bilhão para detentores de outra dívida em default, no valor de US$ 6,1 bilhões.
Para convencer Griesa a suspender a proibição de que a Argentina pague outras dívidas externas enquanto não pagar a Singer, talvez Macri precise chegar a um acordo com todos os seus credores, disse Schnabl.
Congresso
Mesmo que Macri consiga chegar a um acordo com Singer e com os credores restantes, sua missão ainda não terá acabado. Ele ainda precisará convencer o Congresso, que é controlado pela oposição, a revogar ou modificar uma lei que proíbe a Argentina de reabrir as reestruturações de 2005 e 2010.
Pode ser difícil persuadir o Congresso se Macri perder o apoio popular em meio ao lento crescimento econômico e à inflação galopante, disse Siobhan Morden, diretora de estratégia de renda fixa para a América Latina na Nomura.
"Ele ainda não trabalhou com o Congresso, então ele não tem experiência nessa linha de frente", disse Morden. "Eles precisam adiantar todas as medidas, inclusive as negociações com os holdouts, antes que Macri perca capital político à medida que a estagflação piora".