Argentina promete liberar mercadorias na fronteira

A Argentina liberará os produtos brasileiros que estão retidos nas fronteiras, afirmou ontem o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, na saída de uma reunião na Casa Rosada, em Buenos Aires. Entre as mercadorias estão 700 mil pares de calçados, provenientes principalmente do Rio Grande do Sul.

Pimentel, acompanhado do assessor de assuntos internacionais Marco Aurélio Garcia, teve reuniões com dois novos ministros de Cristina Kirchner: Axel Kicillof, da Economia, e Jorge Capitanich, chefe de gabinete da Casa Rosada. “Estou otimista. Tivemos duas reuniões importantes e demonstrou um desejo muito grande da equipe econômica argentina de buscar resolver esses pequenos problemas”, disse Pimentel a um grupo de correspondentes brasileiros na saída do encontro. “O importante é que o que estava incomodando os nossos exportadores, principalmente os gaúchos, vai ser resolvido.”

Em Novo Hamburgo, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados, Heitor Klein, também recebeu a notícia com otimismo e afirmou acreditar que essa medida pode representar a solução para os impasses entre os dois países. “Não faz sentido o governo argentino tomar essa decisão se não for algo definitivo. Esse acordo realmente resolve a situação presente, mas espero que agora tudo volte à rotina”, disse Klein.

Klein defendeu que a intervenção do governo brasileiro é resultado das reuniões feitas em Brasília com entidades e empresários do setor calçadista. Para o ministro Fernando Pimentel, o diálogo com a nova equipe econômica da Argentina nunca foi interrompido, mas, a partir de agora, “seguirá revigorado”.

Um tema abordado nas reuniões, segundo Pimentel, foi o uso das DJAIs (Declarações Juramentadas Antecipadas de Importação), uma das maiores reclamações dos exportadores brasileiros. O documento, exigido em toda a venda para a Argentina, é usado pelo governo local para reter importações e, dessa maneira, regular os resultados do comércio exterior.

“Temos que dar um pouco de tempo para o novo secretário de Comércio Interior, Augusto Costa, que acabou de assumir, para que ele examine esse mecanismo. Mas há muita boa vontade da Argentina. Eles vão estudar e voltaremos a falar sobre isso.”

Os últimos dados da Abicalçados, divulgados em novembro deste ano, apontam para um prejuízo acumulado do setor de mais de US$ 13,2 milhões, causado pelo embargo à entrada de aproximadamente 750 mil pares de calçados. Entre janeiro e setembro deste ano, os argentinos compraram 6,76 milhões de pares, pelos quais pagaram US$ 98,7 milhões, uma queda de 2,7% em pares e incremento de 7% em dólares no comparativo com o mesmo período de 2012.

Conforme o Sistema de Monitoramento das Barreiras Argentinas (Simba), criado pelo Conselho de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Concex) da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), o comércio entre os dois países, de janeiro a setembro de 2013, apresentou um superávit de US$ 2,1 bilhões para o Brasil.

 Mas, para o Rio Grande do Sul, no mesmo período, ocorreu um déficit de US$ 1,4 bilhão. A proposta que Brasil e Argentina apresentarão juntos à União Europeia nos próximos meses também foi um dos temas das conversas entre Pimentel e as autoridades argentinas. “Havia uma dúvida de analistas de que a Argentina não faria uma oferta. Está esclarecido, vai fazer. Teremos uma proposta dos quatro países do Mercosul, e a Venezuela acompanhará”, disse.

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