O presidente eleito da Argentina, Mauricio Macri, enfrentará uma "agenda velha" para implementar as mudanças econômicas necessárias à Argentina, mas o resultado no médio prazo pode ser a recuperação da confiança e a atração de grande volumes de investimentos, segundo o economista Fábio Giambiagi, chefe do Departamento de Gestão de Risco de Mercado do BNDES.
"Há a possibilidade que Argentina se torne a queridinha dos mercados internacionais e que o Brasil seja o patinho feio, se continuar essa situação horrorosa de inflação elevada e encolhimento da economia", avaliou, durante conferência promovida pela GO Associados sobre o resultado e os reflexos das eleições presidenciais argentinas.
O especialista pondera que os problemas econômicos que os argentinos enfrentarão nos próximos anos já foram superados pelo Brasil há décadas. "Estamos falando de negociação da dívida pública com os credores internacionais (holdouts), inflação na casa de 20% a 30% há muitos anos, controle generalizado de preços, dúvidas sobre veracidade das estatísticas e agenda de atração de capitais", listou. "Apesar de uma inflação mais elevada neste ano e de experiências desastrosas com controle de preços de energia e petróleo, o Brasil já superou essas questões nos anos 1990", afirmou.
Uma vez superada esta "agenda velha", no entanto, a Argentina pode voltar a "ficar na moda" nos mercados internacionais e ser capaz de atrair montantes relevantes de capitais. "Elementos de confiança e harmonia são muito importantes e um elemento crucial que definirá o destino da Argentina será a capacidade de negociação do Macri", eleito presidente neste domingo (22).
Política Externa
Fábio Giambiagi chamou a atenção para um detalhe que sinaliza uma importante mudança na política externa argentina sob o novo governo: Lilian Tintori, esposa do líder oposicionista venezuelano Leopoldo López, preso desde 2014, participou da comemoração da vitória ao lado de Mauricio Macri, em Buenos Aires. "Isso tem um papel simbólico relevante. É uma guinada na região. O fato de ontem aponta para o crepúsculo do bolivarianismo na região", disse, projetando que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro deve ficar muito mais isolado em reflexo da mudança de "180 graus" esperada na política externa argentina. Macri já sinalizou que pedirá a saída da Venezuela do Mercosul, sob o argumento de que apenas países democráticos podem integrar o bloco.