Nova Zelândia-África do Sul e Austrália-Argentina serão os jogos das meias-finais do Mundial de râguebi, em Inglaterra
Na conclusão dos quartos-de-final do Mundial, esta tarde a Argentina destroçou uma desfalcada Irlanda (43-20) e a Austrália sobreviveu a escoceses "braveheart" que só cederam a dois minutos do final (35-34). Nova Zelândia-África do Sul e Austrália-Argentina nas "meias" do próximo fim-de-semana.
O desfecho dos jogos dos quartos-de-final confirmou aquilo que muitos já sabiam... e temiam. Sem apelo nem agravo, foi um concludente 4-0 para as seleções do hemisfério sul, correspondendo ao domínio que vêm registando nos confrontos com o quinzes europeus nas digressões das janelas internacionais de junho e novembro dos últimos anos.
E para lá das tradicionais Nova Zelândia, África do Sul e Austrália (cada qual com dois títulos mundiais, somando seis em sete edições, constituindo a Inglaterra a única exceção "nortista") surge no lote a notável Argentina, que assim repete a presença nas meias-finais conseguida no Mundial de França, em 2007.
Este êxito significa tão-só que no hemisfério sul se vem trabalhando de forma superior e mais inteligente em termos organizativos. E que as exigentes competições que ali têm lugar - Super Rugby e Rugby Championship, onde os argentinos têm lugar desde 2012, com resultados que estão à vista - são determinantes para que os seus atletas cheguem a este nível, não sejam afetados pela enorme pressão e imponham um ritmo que na Europa poucos conseguem acompanhar.
Ora se no sábado já se tinham assistido a dois fascinantes espetáculos de râguebi, plenos de emoção e desportivismo, com grandes desempenhos individuais e coletivos, as partidas desta tarde - em estádios de novo quase repletos, com o número total de espetadores a atingir 2.181.640 espetadores, à média de 49.500 por cada um dos 44 jogos realizados - e que encerraram os quartos-de-final da prova, não se ficaram atrás e provaram que esta 8.ª edição da Taça do Mundo é mesmo a melhor de sempre.
No Millennium de Cardiff, a Argentina do nosso Daniel Hourcade (adjunto de Tomaz Morais no Mundial 2007 e bicampeão nacional por Direito) iniciou o jogo a um ritmo infernal, numa exibição perfeita, defendendo sem mácula nem faltas e abrindo bolas sempre que possível - aliás, bastou ver a forma como os Pumas cantaram o hino para se perceber que os irlandeses iam ter uma tarefa muito complicada senão mesmo impossível... - e aos 13" já tinham obtido dois ensaios (Moroni e o excelente Imhoff) e venciam por 17-0!
Sem quatro titulares indiscutíveis - e que equipa mundial resistiria à baixa de alguns dos melhores jogadores do mundo nos respetivos sectores? - (o capitão O"Connell, Sexton, O"Mahony e O"Brien), a Irlanda ainda veria o ponta Tommy Bowe sair lesionado antes do quarto de hora, para desgosto do selecionador Joe Schmidt, que não vai querer ver macas nos próximos tempos perto de si.... Mas com o seu reconhecido espírito de luta ainda reduziria até ao intervalo com ensaio do entrado e muito determinado Luke Fitzgerald (10-20).
No 2.º tempo os homens de verde produziram uma excelente reação que os levou a 20-23 (grande ensaio de Jordi Murphy após bela perfuração de Fitzgerald). Contudo, o esforço feito para tamanha recuperação acabaria por ter o seu preço. Ganhado "turn overs" sobre "turn overs", com a sua impressionante mêlée, os pés de Nicolas Sanchéz (23 pontos e uma exibição imaculada conduzindo magistralmente os Pumas do "man of the match") e ensaios de Tuculet e Imhoff (que bisou e já leva 5 na prova) a construírem o resultado mais desnivelado de sempre nestes duelos frente aso irlandeses: 43-20.
Em Twickenham a Austrália fez cinco ensaios contra três de uma fantástica Escócia - "colher de pau" (ou seja, última) do Seis Nações deste ano e que acabou por ser a seleção europeia que vendeu mais cara a derrota nestes "quartos"- mas o triunfo da equipa de Michael Cheika apenas foi garantido a 2 minutos do final, quando uma falta num alinhamento escocês foi penalizada por (quem mais?) Bernard "the iceman" Foley.
Belo início australiano, com ensaio de Ashley-Cooper logo aos 5 minutos, seria contrariado por escoceses que, sem pressão, caíram em cima do adversário e cedo passaram para a frente, através de oportuno ensaio do centro Peter Horne a furar um "ruck" (10-5). E ao intervalo, apesar dos ensaios de Drew Mitchell e Michael Hooper, pontapés de Laidlaw penalizando faltas da mêlée adversaria (o pilar Scott Sio teve uma partida para esquecer....) - melhor marcador do Mundial, com 79 pontos - davam a liderança justa à Escócia, por 16-15.
No 2.º tempo e com o estádio londrino na sua maioria - e de forma rara - a apoiar os homens de kilt, os Wallabies não conseguiam cavar um avanço suficientemente folgado, mesmo a jogar com um homem a mais por injusto amarelo a Sean Maitland, quando Craig Joubert considerou toque intencional para a frente - o que a repetição das imagens não confirmou...
Os Wallabies ainda marcaram mais duas vezes por Drew Mitchell (o seu 14.º ensaio em Mundiais, a apenas um de Lomu e Habana) e Kuridrani, mas depois de Tommy Seymour reduzir para 25-24, aproveitando pontapé carregado por Finn Russell, sob chuva inclemente, aos 73 minutos Mark Bennett intercetou um passe despropositado do pilar James Slipper e virava para 34-32 debaixo dos postes.
A maior surpresa do Mundial estava a poucos minutos de se desenhar para os "braveheart" de Vern Cotter. Mas cinco minutos depois os pés certeiros de Foley repunham a hierarquia vigente por um fio, selando uns aflitos 35-34. E os favoritos seguiam em frente.
Nova Zelândia-África do Sul (sábado, 16.00) e Austrália-Argentina (domingo, 16.00) são assim os jogos das meias-finais do próximo fim-de-semana, ambos a realizar em Twickenham.