BUENOS AIRES - Marli Olmos
Buenos Aires
O primeiro debate eleitoral da história da Argentina, na noite deste domingo, foi marcado por cordialidade e rigoroso respeito ao tempo para responder às questões. Cinco dos seis candidatos que disputam a sucessão presidencial participaram do evento, organizado por uma ONG. O maior impacto foram as críticas à ausência do governista Daniel Scioli. O candidato Sérgio Massa ofereceu até 30 segundos de seu tempo para pedir um instante de silêncio em protesto contra a ausência do adversário. E foi atendido.
Outra forte crítica à ausência de Scioli partiu de seu principal adversário, Maurício Macri, que atribuiu o gesto às “dificuldades” que a frente partidária do governista teria para decidir quem vai governar caso ele vença a eleição em 25 de outubro: “Não se sabe se será ele, Cristina (Kirchner), Zanini (Carlos Zanini, seu vice, indicado por Cristina), Aníbal Fernandez (atual ministro-chefe de gabinete) ou La Cámpora (corrente jovem do kirchenerismo)”.
Os candidatos aproveitaram o debate para focar segurança e educação, problemas que mais preocupam os eleitores argentinos hoje, segundo as pesquisas. Pouco se falou sobre programas econômicos. Nenhum candidato explicou como pretende sanar questões urgentes e em torno das quais o mundo guarda as maiores expectativas na transição de governo na Argentina, como negociação da dívida com credores externos, perda de reservas em moeda estrangeira e inflação.
Distante da confrontação com adversários, mas com uma agenda carregada durante todo o dia, Scioli terminou o domingo na final de um campeonato de rock em Buenos Aires. Ao ser abordado sobre sua ausência no evento da noite ele disse que “às vezes os debates adquirem um tom agressivo e de ataque”.
Mas não foi o que aconteceu. Tanto os candidatos como os organizadores foram claramente tomados pelo orgulho de ver a estreia do país no mundo dos debates presidenciais.
Pesquisas divulgadas no fim de semana mostram que Daniel Scioli, atual governador da província de Buenos Aires, continua na frente com 38%. Existe, segundo alguns analistas, a possibilidade de ele vencer em primeiro turno. Para isso, precisa chegar a 45% independentemente dos votos dos demais candidatos ou a 40% desde que a diferença para o segundo colocado seja de pelo menos dez pontos percentuais.
Macri teria, segundo as pesquisas, perdido pontos e está, segundo essas sondagens, com cerca de 28%, seguido por Massa, que ganhou mais pontos nos últimos dias e alcança 21% a 23%.
Como ocorre nos países em que essa fórmula já é tradição, o evento ajudou a aumentar a exposição dos candidatos com menos chances de ganhar, como a radical Margarita Stolbizer. Com cerca de 6% das intenções de votos, segundo pesquisas de intenção de voto, a candidata se destacou pela eloquência e segurança nas respostas.
Realizado na Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires e transmitido por uma única emissora de TV, o primeiro debate da história da Argentina foi organizado por um grupo voluntário formado de especialistas em políticas públicas, juristas, economistas e empresários.