Governo de Maurício Macri retoma negociações com os credores que não aceitaram a renegociação da dívida
Com um défice fiscal de 5,8% em 2015 - "o mais alto nos últimos 30 anos" - e o objetivo de o eliminar totalmente em quatro anos, a Argentina gostaria de ter a possibilidade de vender dívida nos mercados internacionais com uma taxa de juro razoável. Mas o diferendo judicial que mantém com os credores que não aceitaram a renegociação da dívida após o default de 2001, conhecidos como fundos buitre (abutre) pelos argentinos, impede Buenos Aires de recorrer a esse instrumento. Daí que a prioridade do governo de Maurício Macri seja resolver o problema.
"Isto é parte da herança recebida. A Argentina está em default desde 2001. É preciso resolver este problema. O lixo não é nosso, mas não temos problemas em limpá-lo. Não o fazer tem saído extremamente caro à Argentina", disse o ministro das Finanças, Alfonso Prat-Gay, apontando o dedo aos governos de Cristina Kirchner. "Não pensem nem um segundo que é lutando contra os fundos buitre que estamos a servir os argentinos. Esta negociação não vai durar nem 15 anos nem 48 horas. Queremos resolver este problema e vamos resolvê-lo da forma mais rápida e justa possível", referiu.
O problema remonta a 2014 quando o juiz norte-americano Thomas Griesa deu razão aos fundos especulativos que recusaram o acordo de renegociação da dívida, subscrito por 92% dos credores após o default de 2001. São chamados fundos buitre (abutre) porque compraram a preços reduzidos os títulos tóxicos (quando já eram quase dados como perdidos), exigindo agora o pagamento na totalidade. Por causa do diferendo, a Argentina tem dificuldade em aceder aos créditos internacionais e ao mercado de dívida a juros razoáveis.
Dívida a crescer
"Dos 2943 milhões iniciais, ao somar-se o me too [expressão em inglês que significa "eu também" e é usada para designar os detentores de títulos em incumprimento que se juntaram ao processo dos fundos buitre] passámos para 9882 milhões. Lavar as mãos custou-nos seis mil milhões de dólares. Se juntarmos os fundos europeus chegamos a quase dez mil milhões de dólares", disse Prat-Gay.
A primeira reunião em quase dois anos do governo argentino com os fundos buitre ocorreu na quarta-feira, em Nova Iorque, com Buenos Aires a comprometer-se a apresentar uma proposta para resolver o problema dentro de duas semanas. O ministro indicou que espera que da parte dos credores também haja novas propostas.
Qualquer acordo alcançado pelo governo de Macri terá que ser validado pelo Congresso e o presidente não tem maioria em nenhuma das duas câmaras. O sucessor de Kirchner espera uma forte oposição do setor kirchnerista, que criticará qualquer cedência aos credores. Mas Macri espera que uma divisão em relação ao setor mais moderado do peronismo possa ajudar a desbloquear a situação.
Défice de 5,8%
"O governo anterior deixou um nível de défice de 5,8% do PIB que é o valor mais alto nos últimos 30 anos, apesar de ter havido uma cobrança recorde de impostos que foi a mais alta dos últimos 200 anos", disse o ministro das Finanças. O executivo espera reduzir este défice para 4,8% em 2016 e 3,3% em 2017, através da eliminação das subvenções às contas de luz e gás para "os 30% mais ricos" do país. O anterior governo acusa Macri de inflacionar o défice (diz que é de apenas 2,3%) para, no final do ano, mostrar uma diminuição recorde.
Prat-Gay causou polémica quando disse que quer eliminar a "gordura militante" da administração, no que parece uma referência aos kirchneristas. No primeiro mês de governo de Macri, foram despedidos cerca de 12 mil trabalhadores públicos.