Marcelo Moreno deixou a seleção da Bolívia (Foto: EFE/Paolo Aguilar)
Uma crise tomou conta da Bolívia poucos dias antes da estreia nas Eliminatórias à Copa de 2018 - a partida inicial será diante do Uruguai, dia 5 de outubro. Inconformado com a postura do treinador Julio César Baldivieso, que assumiu o grupo pouco antes da derrota por 7 a 0 diante da Argentina, em 4 de setembro, Marcelo Moreno anunciou nesta terça-feira sua renúncia ao time. O atacante divulgou um comunicado informando sobre a decisão, alertando que o técnico não tem condições de estar à frente do selecionado.
- Penso que o Baldivieso não possui mais condições de estar à frente da Seleção e não existe mais clima para comandar os atletas, que ele abertamente já trata com desprezo. O mais agravante é o fato de ter começado o trabalho há pouco tempo, com apenas um amistoso, e não mostrar confiança em seus comandados. E não foi qualquer amistoso... Enfrentamos a Argentina, atual vice-campeã do mundo e da América, com time completo, que utilizou os grandes craques que estão nos maiores clubes da Europa. É claro que a derrota foi dolorida, e todos nós sentimos muito. Porém, trocar camisetas com adversários de tanta qualidade no fim da partida é algo absolutamente normal. Não pode ser motivo de declarações lamentáveis quanto à nossa dedicação em servir à Bolívia - afirmou Moreno.
Tudo começou justamente depois da goleada sofrida diante do time de Tata Martino. Baldivieso deu uma série de declarações que deixaram os atletas insatisfeitos. Ele criticou os jogadores que trocaram camisas com os adversários depois do apito final.
- Foi decepcionante ver que se pedia para trocar camisetas depois de perder por 7 a 0. Antes, eu chorava no vestiário - afirmou Baldivieso.
- É que não interessa o que diz a comissão técnica. Interessa mais sair correndo para trocar camisetas - completou o treinador.
Além disso, o comandante boliviano tirou a braçadeira de capitão de Ronald Raldes, que acabou deixando a equipe nacional após o ocorrido. O zagueiro estava na liderança desde as Eliminatórias da Copa de 2014. O técnico justificou sua decisão.
- O capitão precisa ser alguém que tenha liderança em campo - declarou.
O treinador ainda garantiu que iria proibir o uso de celulares nas concentrações: - No aeroporto de Houston vi um grupo de quatro jogadores que não trocavam palavras para nada. Cada um em seu celular. É bom falar, se conhecer mais. Enquanto estiver na seleção será proibido o uso de celulares nas concentrações.
Confira a íntegra do comunicado de Marcelo Moreno:
“Passei os últimos dias pensando bastante a respeito da atual situação da Seleção Boliviana. Acredito que eu e os demais jogadores já estamos acostumados com a troca frequente de técnicos. Isso, muitas vezes, interrompe um trabalho que poderia ser em longo prazo e que nos levaria a dar saltos maiores no cenário internacional. Porém, o momento com o atual treinador Julio César Baldivieso é crítico. Não concordo com a postura que ele vem mantendo conosco. Foram várias declarações infelizes desde o nosso último jogo (o primeiro dele), e creio que têm ferido a honra de quem sempre teve amor à camisa da Bolívia e serve à Seleção com dedicação e otimismo.
Penso que o Baldivieso não possui mais condições de estar à frente da Seleção e não existe mais clima para comandar os atletas, que ele abertamente já trata com desprezo. O mais agravante é o fato de ter começado o trabalho há pouco tempo, com apenas um amistoso, e não mostrar confiança em seus comandados. E não foi qualquer amistoso... Enfrentamos a Argentina, atual vice-campeã do mundo e da América, com time completo, que utilizou os grandes craques que estão nos maiores clubes da Europa. É claro que a derrota foi dolorida, e todos nós sentimos muito. Porém, trocar camisetas com adversários de tanta qualidade no fim da partida é algo absolutamente normal. Não pode ser motivo de declarações lamentáveis quanto à nossa dedicação em servir à Bolívia. Além disso, o capitão Ronald Raldes, que, há vários anos, é um exemplo de liderança tanto para os jogadores experientes quanto para os que estão iniciando sua trajetória na Seleção, não teve sua capacidade respeitada pelo atual treinador. Tenho certeza de que, em uma situação sem conturbações, ele não teria decidido encerrar seu ciclo, mas continuaria exercendo a liderança e ajudando o time nas Eliminatórias - se sua história não tivesse sido desconsiderada por Baldivieso. Embora o técnico possa querer desenvolver seus métodos de trabalho, já começa errado quando, logo de início, põe em xeque o profissionalismo de sua equipe.
Por esses acontecimentos e outros, que prefiro não expor, cheguei à seguinte conclusão: não há possibilidade de que eu vista a camisa da Bolívia enquanto esse profissional estiver no comando da equipe. Será difícil manter um clima saudável, que colabore para que a Seleção faça uma campanha digna nas Eliminatórias da próxima Copa. Tenho certeza de que nunca vou me esquecer dos bons momentos que passei com a La Verde, inclusive o mais recente na Copa América. Foi uma competição em que tivemos confiança, algo que foi fundamental para que conseguíssemos um resultado que poucos apostariam. Porém, prefiro não fazer parte desse ambiente que se criou, pois não vejo como o ideal para a evolução do futebol boliviano”.