Após 32 anos, as Malvinas continuam inglesas e não podem ser …

Há 32 anos, teve início no atlântico sul a Guerra das Malvinas, travada entre argentinos e britânicos. O conflito é até hoje lembrado pelas autoridades portenhas como uma derrota injusta. Mas o debate sobre o tema esquentou diante das críticas feitas pelo ocidente à recente investida russa contra a unidade do território ucraniano.

Tendo em vista a polêmica anexação da Crimeia à Rússia, a presidente argentina, Cristina Kirchner, declarou que as potências ocidentais utilizaram de "duas medidas" ao condenarem o plebiscito crimeano, já que foi considerada legítima uma votação semelhante feita nas Malvinas em 2013 — quando os cidadãos das ilhas decidiram mantê-las como território britânico.

Cristina defendeu que, assim como a comunidade internacional se posiciou a favor da permanência da Crimeia na Ucrânia para preservar a integridade territorial do país, o mesmo argumento deveria ser válido no caso da Argentina, que está geograficamente mais próxima das Malvinas do que o Reino Unido.

No entanto, especialistas entrevistados pelo R7 disseram que, apesar de justificável, o discurso da presidente está equivocado.

“É justificável que governantes adotem este tipo de vocabulário em situações que eles precisam se dirigir mais ao público interno do que ao externo, para manter a imagem do país e do governo diante de seu eleitorado”, explica Eduardo José Grin, professor de relações internacionais do Senac.

Grin acredita que os dois referendos foram realizados de formas muito diferentes e, por isso, estão sendo vistos de formas diferentes também.

— Nas Malvinas, houve uma convocação do próprio governo das ilhas para que os cidadãos decidissem se permaneceriam um território britânico ou se aceitariam trocar para uma área de influência do governo argentino.

Argentina reitera que punirá quem buscar petróleo nas Malvinas

Grã-Bretanha acusa Argentina de intimidação comercial nas Malvinas

Neste caso, o referendo foi elaborado no decorrer de nove meses, com consultas ao povo e, segundo o professor, respeitando as leis britânicas e locais.

— A iniciativa veio mais de 30 anos após a guerra, o que é diferente da situação que aconteceu na Crimeia, onde o plebiscito foi um ato continuo, quase depois de as tropas russas ocuparem a região.

Outra diferença crucial apontada por Grin é que nas Malvinas houve uma forte presença e acompanhamento das Nações Unidas, com dez observadores de sete países supervisionando a votação, enquanto na Crimeia, qualquer tentativa de supervisão exterior foi considerada ofensiva pelo governo russo.

Para o vice-coordenador do curso de relações internacionais da Puc-SP, Carlos Gustavo Poggio Teixeira, também é importante lembrar que, ao contrário da Crimeia em relação à Ucrânia, as Malvinas nunca foram parte da Argentina, com exceção dos poucos dias em que as ilhas estiveram ocupadas pelo governo militar argentino.

“Além disso, ao passo que a população na Crimeia é etnicamente russa, a população das Malvinas não tem identidade com os argentinos”, diz Teixeira.

— Neste caso, o princípio prevaleceu foi o de autodeterminação dos povos, ou seja, a população da Crimeia decidiu se separar da Ucrânia e a das Malvinas decidiu continuar parte da Inglaterra, ambos se aproximando de quem tinham maior afinidade.

O professor também ressalta que nas opções disponíveis no referendo da Crimeia não havia a opção de continuar sendo parte da Ucrânia, apenas independência ou anexação à Rússia. Já nas Malvinas, caso fosse estabelecido que as ilhas deixariam de pertencer ao Reino Unido, seria aberto um outro referendo com opções alternativas para estabelecer o novo status político do território.

— Por estes motivos, o referendo das Malvinas foi realizado de forma muito mais adequada do ponto de vista legal e do direito internacional.

Nesta quarta-feira (2), a Guerra das Malvinas completa 32 anos. O conflito começou no dia 2 de abril de 1982, quando tropas despachadas pelo regime militar argentino da época desembarcaram nas ilhas. O conflito terminou 74 dias depois, com a morte de cerca de 650 argentinos e de 255 britânicos, todos militares.

Open all references in tabs: [1 - 4]

Leave a Reply