A primeira surpresa de “Um Time Show de Bola”, do argentino Juan José Campanella, é a qualidade de sua animação em 3D, que fica patente já na cena de abertura, uma homenagem a “2001 - Uma Odisseia no Espaço” (1968).
Talvez seja um espanto contaminado pelo preconceito, pela ideia prévia de que uma coprodução Argentina-Espanha não seria capaz de alcançar o nível de estúdios hollywoodianos como Pixar ou Dreamworks.
Mas o fato é que alcançou, apesar de o diretor não ser um especialista em animações. E aí entra a segunda surpresa.
Mesmo lidando com uma técnica nova, trabalhando com um tema específico como o futebol e visando também a um público mais jovem, Campanella conseguiu preservar suas marcas pessoais, presentes em filmes “O Filho da Noiva” (2001) ou “O Segredo dos Seus Olhos” (2009).
A nostalgia por um passado mais acolhedor, em paralelo à desconfiança da noção de progresso, o carinho por protagonistas desajustados e coadjuvantes “típicos”, o conflito entre pais e filhos, um romance travado pela timidez, o tom agridoce...
Todas essas características da obra de Campanella estão presentes em “Um Time Show de Bola”, em meio a uma narrativa que busca claramente um apelo comercial.
No início do filme, um pai apaixonado por pebolim tenta se aproximar do filho viciado em games contando uma história de futebol.
Numa pequena cidade, Amadeo, um garoto tímido, é desafiado por Ezequiel, moleque arrogante e bom de bola, para uma partida de pebolim. E, nesse caso, o “loser” ganha.
Anos mais tarde, Ezequiel volta à cidade como jogador profissional, com o objetivo de transformar o lugar em uma espécie de parque temático de futebol, dominada por um estádio padrão Fifa.
Para salvar a cidade, Amadeo aceita o desafio de Ezequiel de enfrentá-lo em uma partida de futebol de verdade.
E então, num passe de mágica, os bonecos de ferro do pebolim --com estilos e personalidades que mostram que o cineasta entende do assunto-- ganham vida para ajudá-lo no desafio.
No final, outra marca de Campanella, não muita positiva, volta a dar as caras: o sentimentalismo, aquela dose de açúcar acima do recomendado. Sem falar na moral da história mais do que evidente.
Mas não é o suficiente para atrapalhar o resultado de uma animação que demonstra uma paixão genuína tanto pelo cinema quanto pelo futebol.