A única voz

 (Mariposa Cartonera/Reprodução)
Cinquenta anos foi o tempo necessário para o escritor, médico, cineasta e compositor Wilson Freire, 55 anos, finalizar todas as páginas de A única voz. O livro ficcional tem como pano de fundo a ditadura militar do Brasil e é influenciado por histórias que marcaram a vida do autor. A obra, publicada pela editora pernambucana Mariposa Cartonera, será lançada no Recife às 10h deste sábado (5), no Box Sertanejo, no Mercado da Madalena.

Na abertura do livro, Freire relata uma história verídica protagonizada por seu pai, em 1964. Jaime Freire era sargento da Polícia Militar, em Pesqueira, Agreste de Pernambuco, quando o exército ascendeu ao poder. Destituído da função, pois “estava sendo muito bonzinho com comunistas”, Jaime salvou-se, por pouco, de um atentado. O fato culminou na morte de um vizinho e foi presenciado pelo autor, que tinha 5 anos na época.

“Para mim, o livro começa ali. Ficou marcado e passei a vivenciar isso. Em 1975, comecei a escrever sobre o tema e não tinha maturidade para terminar”, conta. O projeto foi retomado em 1989, data da primeira oficina literária de Raimundo Carrero. “Deixei as bases prontas e em 2014 finalizei a obra. Por isso, que eu considero ter levado 50 anos”, relata.

A narrativa tem como personagens dois irmãos gêmeos, em lados opostos. Um militar e outro contrário ao governo. Apesar de ficcional, a história está impregnada com referências históricas. “Ele (o livro) tem a parte documental, com relatos do rádio que é o narrador. É a Voz do Brasil, chamada por ele de única voz, que conta a versão dos militares”, diz Freire.

A experiência do autor como militante também ajudou na concepção do livro. “Eu participei do movimento estudantil contra a vontade do meu pai. Não por ele ser militar, porque ele era democrático, mas tinha medo de acontecer algo comigo”, relembra.

A única voz custa R$ 13 e possui ilustrações de Germano Rabello. O título será vendido durante o lançamento. No estande da Mariposa Cartonera, localizado na Galeria Café Castro Alves (Rua do Lima, 280, Santo Amaro), e na fan page da editora no Facebook, o trabalho também  será comercializado.

Serviço:
A única voz
Editora: Mariposa Cartonera
Valor: R$ 13
Autor: Wilson Freire

 (Mariposa Cartonera/Reprodução)
Mariposa Cartonera
O selo pernambucano se inspira no movimento cartonero, que nasceu na Argentina, no ano de 2013, em plena crise econômica. Atualmente, no mundo, mais de 200 editoras confeccionam livros com capas de papelão.  A Mariposa Cartonera já lançou seis livros, contando com A única voz. Mais dois títulos serão publicados em abril: Enfermaria cinco, do poeta cearense Lupeu Lacerda e Recortes de Hannah, com contos do escritor Christiano Aguiar.

 (Foto: Roberta Guimarães/Divulgação)
Palavra do autor:

“Eu escrevo o material e espero a oportunidade, a maturidade para publicar.  Às vezes, crio e já publico na internet, mas alguns não estão preparados e eu mexo. Muita coisa, eu sei que não vou acabar.  Mas, esse texto (A única voz), achava que tinha a obrigação moral de terminar. A oportunidade de finalizar era essa, 50 anos do golpe. Era a hora de acertar minha conta com a ditadura”.

“Gosto muito da Mariposa Cartonera porque é uma forma independente (de publicar). Porque integramos pessoas. Você pode terceirizar as capas com artistas e abrir um leque de produção interessante, sem precisar esperar as grandes editoras. É um grito de independência do autor. O importante é que leiam e as pessoas com pouca grana possam comprar. Tornar a literatura democrática”.

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