A desvalorização que a Argentina necessita custará caro para …

(Bloomberg) - A desvalorização da moeda de que a Argentina precisa para restaurar sua saúde econômica será dolorosa para as empresas estrangeiras que nadam em pesos.

A Coca-Cola Co., a Clorox Co. e a Telefónica SA são algumas das empresas com milhões de pesos que perderão valor se o novo governo eleito no dia 22 de novembro enfraquecer a taxa oficial da moeda argentina, algo que os economistas estão instando a fazer. Investidores como George Soros e Richard Perry, e multinacionais como a fabricante brasileira de alimentos BRF SA e a processadora americana de oleaginosas Bunge Ltd., têm apostado que os responsáveis pela política econômica implementarão reformas econômicas muito necessárias que foram prometidas pelos principais candidatos presidenciais.

Mas o resultado poderia ser prejudicial para algumas companhias com grandes pilhas de dinheiro, pois controles de câmbios deixaram as empresas estrangeiras com lucros que não podem transferir para fora do país. Poderiam haver até US$ 8 bilhões em dividendos de companhias que não puderam ser repatriados no período entre 2012 e 2015, segundo a consultoria Elypsis.

"É difícil, porque muitas vezes elas têm muito dinheiro líquido reservado para enviar dividendos para o exterior assim que possível", disse Orlando Ferreres, diretor da Ferreres Asociados, uma consultoria que assessora empresas como a Coca-Cola e a Total SA. "Algumas delas compraram edifícios, mas elas não gostam nem um pouco disso. É uma forma de proteger os dividendos, mas que imobiliza o dinheiro".

Assunto proeminente

A lenta ligação cambial da Argentina se transformou em um dos assuntos mais proeminentes da eleição. O líder da oposição, Mauricio Macri, prometeu suspender os controles cambiais e permitir a livre flutuação do peso a partir do seu primeiro dia no cargo. O candidato do partido governista, Daniel Scioli, disse que ele suspenderia as restrições gradualmente, mas continuaria controlando a taxa de câmbio por meio da intervenção do banco central a fim de não afetar o poder aquisitivo dos argentinos.

Em fato relevante apresentado depois do terceiro trimestre, a Coca-Cola disse que tem US$ 346 milhões presos na Argentina por causa dos controles cambiais. Um porta-voz da Coca-Cola não quis comentar sobre a exposição do país a uma desvalorização do peso. A Telefónica, com sede em Madri, disse aos investidores no dia 6 de novembro que tem 105 milhões de euros em pesos que não pode enviar de volta para a Espanha. A Telefónica não quis comentar sobre sua posição de caixa na Argentina.

Vantajoso

Uma desvalorização poderia ser vantajosa para as empresas que pagam a seus funcionários na moeda local e recebem dólares pelas suas exportações, como as companhias mineradoras. Os CEO da Silver Standard Resources Inc. e da Globe Specialty Metals Inc. disseram aos investidores em apresentações recentes que uma queda do peso poderia ser benéfica, pois diminuiria os custos operativos das empresas.

Alejandro Díaz, o CEO da sede local da Câmara de Comércio dos EUA, que enviou neste mês sua primeira delegação para o país em vinte anos, disse que as empresas estão olhando para o longo prazo enquanto enfrentam as próximas mudanças.

"Há muitas expectativas para o futuro - não estamos esperando que seja Disneyworld em 2016, mas estamos prontos para os desafios à frente", disse Díaz. "Ouvimos de diferentes grupos econômicos a intenção de tomar as decisões certas para o longo prazo, estamos prontos para essas decisões e sentimo-nos otimistas em relação à forma de enfrentá-las".

Título em inglês: 'Argentina's Much-Needed Devaluation Is Going to Cost Coca-Cola'

Para entrar em contato com a repórter:

Carolina Millán, em Buenos Aires, cmillanronch@bloomberg.net

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