A desastrada gestão dos Kirchner

Um casal governa (ou) a Argentina há dez anos. O povo do Rio da Prata vislumbra alguma magia na governança sob um casal e um tango. Cristina rompeu com importantes lideranças sindicais que seu marido afagava carinhosamente, não como forma de libertar o país de um corporativismo peronista quase crônico, mas para cair nos braços de outras correntes do peleguismo portenho e gerar grandes manifestações de descontentamento em frente à Casa Rosada. Os motivos para o descontentamento crescente do povo argentino são inúmeros, desde a proibição da comercialização do dólar, que passou a fluir clandestinamente, e, agora, o câmbio negro é legalizado. Ao contrário da propaganda governamental, a década passada foi um longo período de estagnação - uma década perdida. A agroindústria sofre. A degenerescência da importância das exportações argentinas está evidenciada no mercado mundial. Um tradicional produto argentino - a carne - foi praticamente suprimido do consumo estrangeiro - desde o governo de Néstor Kirchner.

Esse controle das exportações teve natureza xenófoba e temerária no contexto de uma economia globalizada. As consequências foram as piores possíveis: aumento dos preços internos e retração das exportações. Por outro lado, formou-se um casulo com a proibição de importações de várias mercadorias essenciais, como se algum país pudesse ser uma ilha isolada. A proibição de importações foi deplorável. A agressividade do governo argentino em relação a seus parceiros do Mercosul, inclusive o Brasil, isolaram-no no Cone Sul.

O detrimento dispensado às relações comerciais com o Brasil, submetidas a uma lenta  e despreocupada inspeção por parte  de suas autoridades,  só não recebeu a contrapartida  de  forte retaliação do Brasil graças à  nossa tradição diplomática prudencial e à leniência do governo de Dilma Rousseff com seus parceiros populistas da América Latina. Já se prenuncia uma crise imobiliária, com forte queda dos preços de venda e aluguel de imóveis até em Buenos Aires. Esperemos que, para superar a crise, prevaleça democraticamente a vontade soberana do povo, num país acostumado a resolver seus impasses por meio de golpes de mão e ruptura das liberdades públicas.

Advogado

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